Agnes Walsh – dois poemas
Agnes Walsh nasceu em Placentia, Terra Nova, Canadá, em 1950. Poetisa e dramaturga, é autora de dois livros de poesia: In the Old Country of My Heart (1996), Going Around with Bachelors (2007). Viajou extensamente no Canadá, Estados Unidos, Portugal e Irlanda. Alguns dos seus poemas estão traduzidos em português por paulo da costa.
Al-Gharb
É uma noite índigo e recheada
com o aroma de flores mornas,
um manto de cheiro pelo ar da noite
que desliza sob a minha língua,
para o teu cabelo.
Subimos a calçada de pedras polidas
para o centro de Silves, velha capital mourisca
de Al-Gharb, e a noite embrulha,
envolve, transporta-nos para dentro.
Sob os pés, as pequenas pedras do passeio
macias como a pedra-sabão.
Descalço as sandálias no escuro.
Caminho pelas ruas sinuosas e a calçada irregular
balouça o corpo, amacia o corpo.
Nos pomares distantes
ouço laranjas cair por terra,
um apagado bater e rolar
de laranjas no breu da noite.
Vendaval de chuva, Nazaré
Quando o sol se põe na Nazaré as mulheres embrulham xailes de lã ao redor dos ombros e peitos, e enfiam as pontas nas cinturas das saias enfunadas. Ajustam-se os lenços de pescoço em torno das orelhas e enfiam-se nos decotes das blusas. Puxam-se as meias de lã sobre as pernas de veias grossas.
Quando vem a chuva, as cabeças fazem-lhe a vénia e as omoplatas curvam-se sob o peso. Chamam-se as crianças em gritos agudos. Batem-se as portadas de madeira. Os quiosques fecham-se. Os cães correm obliquamente para as entradas das casas para logo serem pontapeados de novo para o vendaval.
É então, tão abruptamente como começou, que pára. Os canários chilreiam e os papagaios tagarelam. As crianças correm. As peixeiras apregoam. Os homens regressam à areia húmida e ao conserto das extensas redes.
O sol põe-se como um brasão. Os cães reviram os caixotes do lixo. As crianças são chamadas a casa. As sardinhas colocadas nas grelhas dos pátios. As mulheres cantam. O sol põe-se.
tradução paulo da costa