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tradução de texto, tradução do eu
tradução de texto, tradução do eu Imagine-me diante de um espelho, a conversar, a discutir. Peço clarificação sobre o sentido de uma palavra ou argumento a palavra mais precisa para expressar a minha experiência em duas línguas cara a cara na minha mente. Esta imagem pode evocar um indício de insanidade ao observador distraído. Por outro lado, para aqueles mais benevolentes, pode parecer um ato de contorcionismo: ioga cerebral. Este processo implica recompensas e armadilhas. O constante vaivém de línguas dentro da minha mente não está livre de colisões e tramas descuidadas. A separação não é alcançada com facilidade. Por vezes, a junção de palavras pode ser benéfica.…
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Image – Nuno Júdice
IMAGE translated by paulo da costa The man who talked to himself in munich’s central station what language did he speak? What language speak those lost like that, on platforms of train stations, at night, when no kiosk sells newspapers or coffee? The munich man asked me for nothing, he didn’t even look as if he needed anything, meaning, he looked like someone who had arrived at the last stage the stage of someone who does not even need himself. Although, he spoke to me: in a tongue not resembling a language among those capable of expressing emotion or feeling, limited to a sequence of sounds whose logic…
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Zoology – The Blackbird (Nuno Júdice)
ZOOLOGY : THE BLACKBIRD translated by paulo da costa Inside the cage, the blackbird has no yellower a beak than outside. The bird shrinks into a corner, poor thing, and seems shy, although it is the fault of who placed it there knowing a blackbird does not fall from the sky. There are birds like that, birds people place in a cage, despite their yellow beak. They do not sing. Do not fly. Do not speak. They are birds gone blind from the silence of oracles and dumb from the lucidity of prophets. Completely by chance, I opened the cage. And the bird just sat there,…
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Class Struggle – Nuno Júdice
CLASS STRUGGLE translated by paulo da costa Not everyone who built the cathedrals witnessed the same. Some, by sunlight, erected towers and pinnacles and attained heaven, others, inside crypts, painted hells by candlelight, leaving room on the ground for the most anonymous of the dead. Those who reached the top, received the divine gaze and witnessed the triumph of spring dawn, those who stayed at the bottom, extracting the hallucinated gestures of demons from damp walls, exchanged obscenities and disease. And yet, the cathedral is unique, and those who visit, appreciating the entirety that, they say, was born of a perfect vision, do not think in details. Who cares…
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inevitable step
inevitable step young tiko’s dreams scatter to pieces, hang from the baobab tree, a boom of a thousand drums in the imagined luanda’s stadium where tiko’s feet, swift as birds, chased a soccer ball of rags gravel, grass and cloth burrow in tiko’s stump in the boot of europe, a church-going father designs devices in explosive greens and sands, calls them butterflies, toys gliding to the ground in the thousands. his sister quit valsella last month and greets him with a banner at the end of the day home at night, in the undermining silence, missing another goodnight kiss, the father clings…
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calcanhar de aquiles
(animus) onde a mãe te segurou sob a água em movimento a flecha penetra convida-te a ajoelhar a sangrar desse lugar mortal que a sua mão não soltou (…) excerto ©paulodacosta de: notas de rodapé, LPD 2012 Livro ou ebook vendido pelas Livrarias da Amazon nos EUA GB Espanha Alemanha
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o rodopio da wiebke
o rodopio da wiebke à W.L. paragem de autocarro, filas austeras, a tua dança principia, o sol transborda dos vidros do colete, ancorados à bainha, os búzios chocalham o cimento não vacila sob pés descalços a criança destemida aproxima-se, admira os anéis, a saia de corvo a esvoaçar o resplendor de folhos dourados no autocarro, o teu cabelo arco-íris projecta cores, trauteias acostumada ao espaço imediato, já nem te apercebes das bocas entreabertas sob as nuvens apodrecidas de hamburgo, ao lado de mercedes-benzes em acelarações, conversas com carecidos, prostitutas tal oráculo enviado dos céus, convidas dependência, loucura, demónios a cantar no aromático…
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tão longe, tão perto
tão longe, tão perto à B.Q. e à A.D. o peso da tua cabeça exerce pressão no meu peito, a respiração é forçada após uma estrofe sobre “amantes que partiram um amor de porcelana rechonchudo como a baleia,” e, apesar da tua mão descansar na minha coxa moves-te como se acordasses de um sonho onde poderias ter estado com outro qualquer. todavia encorajas-me a prosseguir, há meses que peço bocas emprestadas, as minhas palavras secaram no poço dos anseios. imagino que uma palavra tece os teus sonhos, caudal que nunca secará – “não pares, adoro o sussurrar da tua voz” – a facilidade com que pronuncias o amor…
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sem raízes
sem raízes I. plantas do pé sem raízes solidamente assentes entre árvores de unha-de-cavalo o peso do corpo cunha a sua própria cama aí a chuva se congregará II. quente e macia a terra é a pele amante que recorda o meu peso após a partida (…) excerto ©paulodacosta de: notas de rodapé, LPD 2012 Livro ou ebook vendido pelas Livrarias da Amazon nos EUA GB Espanha Alemanha
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Um Punhado de Ilusões,
Eu, o diabo? Nunca. O diabo não se atrevia a dedicar-se a estas canseiras, estes riscos. Eu gasto as pontas dos dedos até ao giz do osso só para agarrar clientela. Ah… não como a vida de padre, feita à medida, simplesmente a deslizar para dentro de uma batina e a esborrifar umas lufadas de incenso perfumado no altar, e de imediato as gentes correm das suas colmeias para os bancos da igreja. Padres nem se preocupam em engendrar novos milagres de valia, amparam-se em milagres tecidos há tanto tempo que já ninguém os põem em questão. Qual é a alma viva que atesta esses milagres de seus próprios…