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Beyond Bullfights and Hockey
– AN ARCHITECTURE OF MULTICULTURAL IDENTITY – Homens que são como lugares mal situados Homens que são como casas saqueadas […] Homens encarcerados abrindo-se com facas Homens que são como danos irreparáveis Homens que são sobreviventes vivos Homens que são como sítios desviados Do lugar Daniel Faria My first memories, first smells and sounds are of Angola, coloured by its African geography of heat and flavoured by its culture, spirituality and music. My experience of the continent was brief, since a handful of years later my parents returned to their homeland in Portugal, where I was raised in the northern grape-growing hills of Beira Litoral. Backpack…
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Pedras Parideiras
Francisco guiava a aldeia que o seguia por campos de milho, montes, atravessando ribeiros, para indicar ao povo estupefacto o berço das pedras parideiras. Os corpulentos pedregulhos, descobertos e batizados por Francisco com o nome de pedras-mãe, encobriam a crista do cume e ao longe pareciam indistinguíveis de qualquer outro campo de pedras no cabeço da Serra da Senhora da Freita. Nesse Domingo, a excitação era tal que a missa fora cantada pelo caminho enquanto marchavam sob o nascer do sol raiante. Um rosário de povo seguira Francisco lembrando-lhe o seu próprio rebanho de cabras, não fora as preces que ecoavam das escarpas. Preces mais estridentes que os costumeiros…
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The Story
(…) excerpts 2. resuscitation Word and story can function as an emergency resuscitation for our numbed selves, quagmired in hopelessness and exhaustion, buried in overworking conditions. This rubbing of words generates sparks to illuminate the atrophied mind after a diet of cultural inanity and stale laugh tracks. A fresh story may articulate a need so utterly fundamental to human longing, so deeply repressed and silent that it will resurrect the flame of desire for a different living experience. This fundamental capacity of awakening the human spirit and resurrecting the citizen by naming, remembering, connecting and informing, giving voice to that which was silenced and lies moribund, has always…
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Uma Aragem de Memória
Florindo Ramos adorava árvores, e sempre adorara, desde que num inverno turbulento, quando rapaz ágil, saltando de pedra em pedra, procurando musgo pela orla do rio Caima, escorregara, caindo na rodopiante corrente, «Eu cá teria afogado», contava Florindo às crianças que o rodeavam e atentamente escutavam as suas histórias após o fim das aulas. Com ternura, Florindo acariciou as verdejantes e lustrosas folhas dos rebentos que cresciam sob a copa da mãe ginkgo. Florindo continuou, dirigindo-se às crianças e aos rebentos, «Remei com os braços, mas sem sorte. Afundei num fechar de olhos. Foi então que a minha ginkgo se arqueou, quase pulando da terra», indicava ele com um…
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Immortality
Vera rummaged in the wood crate overflowing with fluffy moss she and her brother had collected that morning in the pine woods behind her parents’ riverside home. The moss’s cool softness dampened her fingers. After careful inspection, she found a wide patch of greenery to cover the refuge of stacked pebbles and slate roof she had assembled on the fireplace mantle. The refuge, in reverence referred to as the Holy Cave by her mother, would shelter the clay figure of Baby Jesus in the manger, surrounded by Mary, Joseph and the cows. Through the moss an oak seedling thrust upward, lending a realistic touch to the miniature world Vera…
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Canada (T)reads Upon our Books
A new phenomenon of combative books adorned with spikes rather than spines, armours rather than covers, vying for centre stage and the gold medal of attention at the annual CBC Canada Reads marketing blitz, has become the prominent public spectacle of our Canadian literary scene. The essential design of this radio show—yes show, not program—borrows the militaristic “shock and awe” tactic to reveal the one and only winner by applying the psychological counterpart of the gory attrition of Roman gladiators or ice hockey goons to drum up the attention of listeners. The authors themselves are not required to step onto this cerebral bloodthirsty rink to be pitted against each…
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Winter Kale and the Old Man
Portraits of Queen Elizabeth the Second in full regalia lined the walls. The oil paintings spanned the mood of her reign. Sixty prospective citizens stood, left hands raised, their free hands clutching Korans, Bibles, Books of Mormon. I clutched a pine cone in my vest pocket. “I swear I will be faithful and bear true allegiance to her Majesty Queen Elizabeth the Second, Queen of England, Her Heirs and Successors, according to law and that I will faithfully observe the laws of Canada and fulfil my duties as a Canadian citizen.” Soon-to-be citizens, and eager relatives, repeated in unison, line by line, the required oath while I practised the…
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Satúrnia
ENTREVISTA A PAULO DA COSTA Paulo da Costa é autor do livro “The Scent of a Lie” Depois de conceder esta entrevista, foi galardoado com o prestigioso “Commonwealth Writers Prize 2003 (Best first book)-Caribbean & Canada Region” Satúrnia – Em primeiro lugar gostaria que nos falasse um pouco de si, pois está um pouco arredio daquilo a que se chama a Comunidade Luso-Canadiana. Quem é, como veio parar ao Canadá, o que o faz escrever? Paulo da Costa – Nasci em Luanda, Angola e aos cinco anos de idade os meus pais regressaram a Portugal. Vivi a minha meninice e adolescência em Vale de Cambra, na Beira Litoral. Naquela época,…
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ser português
ser português é nascer com o fado ao pescoço viver de olhos ancorados ao alto mar, ansiar pela maré de partir ou pela onda do regresso viver enlatado entre mar e espanha exportar sardinhas ir à missa e esquecer o sermão é confessar-se a amigos de garrafa na mão é não fazer ondas bastam as que revoluteiam no mar rezar pela paz admirar fátima e batalha na mesma santa visita ser português é amar o carro mais que a si próprio é bastante mais em conta ser português é partir para o estrangeiro josé e regressar joe ser pequeno…
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A Música da Tradução
A Música da Tradução Cada texto em particular exige que o tradutor sintonize as suas necessidades. As necessidades são variadas e complexas em qualquer transposição de uma língua, de uma cultura para outra. Aqui irei concentrar-me na análise das necessidades musicais de um texto específico. Do poético ao técnico, e em graus variáveis, cada texto vai exigir escalas variadas de atenção para facilitar o fluxo da linguagem. Para conseguir isso, um tradutor deve ser um ouvinte atento e também capaz de escutar a música nas palavras. O que diz o texto e o que perpassa do texto? Será que a ordem de notas chega a todos os ouvidos em…