efêmero
paulo da costa
(tradução de Mauro Faccioni Filho, Brasil)
passo a passo
cavo vales
sob cada pisada
a formiga escala
montanhas de areia
recém erguidas
esta é a força
a moldar o mundo
cada pernada, junto
da areia molhada
vai mais fundo, dura
o mais breve momento
como uma onda
estende sua língua
acariciando a praia
e pegadas deixam-me
como se eu nunca tivesse
caminhado aqui
sem título
paulo da costa
(tradução de Mauro Faccioni Filho, Brasil)
gota a gota
uma garoa surge
leve, quase
amável, sufocante
céu, o ruído
de um homem ou uma mulher
lutando
querendo ir pro sul
ali bem perto
de uma miragem do deserto
mas não há lugar
na terra em que lágrimas não
estatelem-se pelo chão
é a gravidade habitual
até as tempestades
brotam tênues de si mesmas
e fúria é um vento
sem uma pipa
predador
paulo da costa
(tradução de Mauro Faccioni Filho, Brasil)
O coiote faminto ronda minha casa
adormecido comovo-me
perplexo com pesadelos
o coiote segue minhas pegadas pela neve
até o degrau da porta dela
meu degrau
para ela
seu coração
uiva uma canção sem retorno
escorrendo pela neve derretida
Os olhos azuis
de sua própria decepção
fizeram-no perceber
que a caçada falhou
esse janeiro fraco
sua fria mandíbula
crava os dentes
irritados no osso elástico
Eu desperto,
pouso minha mão no peito dela.
Nossos corações ainda rimam quando batem.
Inverno
O inverno é longo
a caça um velho hábito
o inverno retornará
a caça nunca termina
O perfume do sangue
suspenso no ar
atração magnética
e a retração da lua
na mente de um amante
a última linha
jamais escrita
©paulodacosta2000
One Comment
Ghyslene Rodrigues
“A ultima linha jamais escrita”