Joelene Heathcote – poema
Joelene Heathcote nasceu em 1975 e reside em Victoria, na Colômbia Britânica, Canadá. Premiada pela sua ficção e poesia, é considerada como uma das novas promessas da literatura canadiana. O seu primeiro livro, de 2002, intitula-se What is between us can’t be heard. Em 2008 publicou Inherit the Earth.
Cena da Segunda Guerra Mundial
Verão, começa aí
numa dessas importantes datas do século vinte
não te esqueças de fechar os olhos.
A manhã é ideal porque ainda retém o sonho
lentamente como as tartarugas na praia, os teus companheiros – alguns
tombados de barriga para o ar. Observa a forma
como são despojados das rações – permanece rasteiro. Todas as defesas
deixam o corpo desprovido de meias e comida,
arma e nome. Aprendeste que duas espingardas
são superiores a uma, granadas, completas ou em fragmentos,
são feitas de um aço tão forte que deve ser
esburacado da carne com uma faca.
Aumentas as tuas hipóteses de viver se escutares
com as células, elas sabem o que a mente simplesmente
não lembra: a defesa das fileiras de árvores e montanhas,
o perigo do descampado ou da água.
Aponta a tua espingarda ao breu e deixa-a
dizer o que tu não consegues e terá o mesmo efeito.
Alveja a cabeça ou o coração, uma resistência
dividida por um fio detonador dourado entrelaçado
num campo seco onde o teu inimigo ou crianças futuras
nele tropeçarão. Nada é mais
primitivo que o ódio – um tipo de estilhaço que os teus olhos
e rosto absorvem. Vês o que está a acontecer?
Observa o homem avançando penosamente com erva até ao peito.
O que procura ele? Um lugar para se deitar? Ou
algo para comer? Ou a ti? E nesse momento,
como um pássaro subterrâneo, ou um peixe castanho
de um ribeiro submerso, o que tinhas plantado
levanta-se, um borrifo prateado vindo de barbatana ou asa
derrubando o seu corpo. Quero que prestes
muita atenção porque isto é importante.
Ele está possivelmente a trinta metros de distância
mas sempre que revês esta imagem
ele está bem mais perto, o arame a esticar-se como um fio
de teia e momentaneamente imaginas
que ele dança mas desconheces como esta
gente realmente dança. E apesar de quase de certeza
desejares chorar, resiste. Tais sons são fracos
e ouvidos a quilómetros; permanece rasteiro. Espera o anoitecer
para entrelaçar outro fio, leve como uma farpa de luar
dividindo a erva e de seguida toca de novo no teu rosto
para te certificares que desta vez não foras tu.