Patrick Lane – poemas
BELEZA
Patrick Lane
Outrora eras bela
mas de tal já não te recordas
o que te torna ainda mais bela.
As mulheres mais belas são aquelas
que não o sabem. São elas a razão
pela qual os homens se deitam ao seu lado no rigoroso respeito
da sua graça, desejando pertencer a tal desconhecimento.
INVERNO 18
Patrick Lane
Nua no quarto vazio
a jovem oferece-se. Tal insinuação impossível,
tal dança desesperada, tão inadequada
só inocência para lhe oferecer. A sua ternura, tão desastrada
sem matreirice, deixa-lhe
duas possibilidades: transgressão ou transformação.
Um ingénuo fiasco.
Como ele se faz santo para tolerar o desperdício.
Se existe nele algo
semelhante ao amor
é para os dois pompons brancos das meias dela
que é tudo que ela veste neste chão frio
enquanto dança ao seu redor,
relembrando as neves do princípio de outono.
ESTRELAS
Patrick Lane
Essas luzes no céu.
Pequenas borboletas da noite,
pequenas sonhadoras. Cada vez que a minha amada
se levanta para passear no jardim matinal
observo-a da janela.
Não posso deixar de a olhar.
Vê como ela se debruça perante o amanhecer,
as flores da cerejeira nos seus sombros
ao acariciar o gato
que a segue por todo o lado, querendo
apenas estar com ela
entre os musgos escuros.
Tanta luz que existe
na alta janela da noite.
Como espero, sabendo, que por agora
ela regressa a mim,
os seus pequenos pés humedecidos de orvalho,
brancos como estrelas
nestas horas derradeiras.
tradução paulo da costa