Zoology – The Blackbird (Nuno Júdice)
ZOOLOGY : THE BLACKBIRD
translated by paulo da costa
Inside the cage, the blackbird has no yellower a beak
than outside. The bird shrinks into a corner,
poor thing, and seems shy,
although it is the fault of who placed it there
knowing a blackbird does not fall from the sky.
There are birds like that, birds people
place in a cage, despite their yellow beak.
They do not sing. Do not fly. Do not speak.
They are birds gone blind
from the silence of oracles and dumb
from the lucidity of prophets.
Completely by chance, I opened
the cage. And the bird just sat there, not going in
not going out.
(…)
excerpt ©paulodacosta
from: The Cartography of Being, LPO 2012 –
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ZOOLOGIA: O MELRO
Na gaiola, o melro não tem o bico mais amarelo
do que fora dela. Encolhe-se a um canto,
coitado e parece envergonhado;
— embora esteja ali por culpa de quem lá o meteu
sabendo que um melro não cai do céu.
Há pássaros assim, que qualquer um
mete numa gaiola, apesar do bico ser amarelo.
Não cantam. Não voam. Não falam.
São pássaros cegos
com a mudez dos oráculos e mudos
com a lucidez dos profetas.
Perfeitamente por acaso, abri-lhe
a gaiola. E ele deixou-se estar, sem sair
nem entrar.